Via crucis contra a homofobia

Me lembro de quando ainda ia na igreja católica e o padre fez uma homilia que acaba sendo muito contundente com a atual polêmica da crucificação na parada LGBT, que aconteceu domingo.
Ele ressaltou fervorosamente que se Jesus retornasse nós o crucificaríamos novamente, como fizeram naquele tempo.
Aquele imaginário da crucificação, do martírio e dor me soavam (e soam) muito cruéis, eu não era capaz de imaginar que nós, pessoas do século XXI fôssemos capaz disso, mas depois de ler tantos comentários esdrúxulos e vazios eu tenho certeza de que o faríamos.
Pessoas que pregam o bem e que acompanhei por grande parte da minha vida estão compartilhando discurso de ódio de gente como Silas Malafaia ou simplesmente vociferando inverdades, crueldades e argumentos pífios.
Eu lembrei na hora das inúmeras encenações que via na igreja na época da quaresma, na paixão de Cristo.
A multidão que gritava pra soltar Barrabás e crucificar Jesus.
A história agora se repete, são pessoas gritando novamente, destilando ódio e o pior fazendo tudo ao contrário do que Jesus realmente propôs.
Jesus era visto como um marginal pra sociedade da época, ele andava com pobres, com prostitutas e pregava o amor! Condenava a cobiça, o ódio, as desigualdades.
Ninguém está pedindo pra vocês mudarem a orientação sexual (ou como vocês dizem, impondo uma “ditadura gayzista” – termo totalmente equivocado), quiçá militar pelo movimento LGBT, o que queremos é que respeitem as pessoas, que segundo Jesus são a imagem e semelhança dele e que vejam na encenação de domingo da parada LGBT o que tantos gays, lésbicas e transsexuais sofrem por conta deste ódio desmedido!
Eu espero que ele não volte tão cedo porque senão uma das passagens bíblicas que tenho mais medo se fará real: ali haverá choro e ranger de dentes.

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Sobre olhar para as pessoas e oferecer cafés compartilhados

Não costumo passar pelo começo da Rua da Consolação pra voltar pra casa. Prefiro passar pela Praça Roosevelt e ver o pessoal andando de skate, os atores das escolas de teatro, mas eu precisava renovar um livro na Biblioteca Mário de Andrade (que fica na Av. São Luiz) e achei prudente seguir pela Rua da Consolação.

Quase chegando à Av. São Luiz (e andando rápido como de costume) eu quase passei batida por uma plaquinha que chamou a minha atenção.

Eu li “Café compartilhado! Já pagou o seu hoje?” e fiquei muito curiosa pra saber do que se tratava. Então voltei e perguntei ao vendedor, que se apresentou como Sr. Neves e me disse como funcionava o tal do café compartilhado.

Ele falou que o café compartilhado é destinado a quem não tem condições de comprar um café como pessoas em situação de rua e que os clientes compram cafés, chás, bolos, lanches e marcam numa lousa, destinada às comidas “compartilhadas”, que servem como um “crédito”.

Revirei as moedas no fundo da minha mochila e deixei um café compartilhado. Esperei Neves escrever na lousa, agradeci e fui andando para a biblioteca.

Chegando em casa (porque estava sem 3g) postei a foto no meu instagram e facebook, como faço com tantas fotos que tiro por aí, mas nunca pensei que ela fosse atingir uma repercussão tão positiva.

http://instagram.com/p/3MFR5Cl3dS/?taken-by=n_odara

Gostei muito da atitude do Sr. Neves por ser um gesto de gentileza, mas sobretudo por ocupar a rua, o espaço público com o seu sustento e ao mesmo tempo lançar o olhar às pessoas que estão ao nosso redor, que transitam como invisíveis, as pessoas em situação de rua.

Olhei o facebook e muitos amigos curtiram a publicação e pediram para que eu alterasse a privacidade da foto e a deixasse como “pública”, para que mais pessoas soubessem da ação.

Acordei às 6h da manhã para ir a uma entrevista de estágio, mas decidi passar na banca do Neves, tomar um café e contar sobre a publicação. Contei que o post tinha mais de 10.000 curtidas e ele me respondeu com um sorriso estampado no rosto “menina, eu vi! Até meus filhos de Porto Alegre ficaram sabendo e compartilharam a foto! Gente, olha aqui, ela é a jornalista que tirou a foto e postou”.

Eu ri e descobri então que o vendedor do café compartilhado é gaúcho, tem 54 anos e está em São Paulo há 9. Neves é analista de suporte técnico e começou a trabalhar vendendo café em 2014.

Quase na hora de ir embora eu perguntei como ele teve a ideia do café compartilhado. Neves disse que quem despertou a ideia foi uma cliente mato-grossense que comprou um café e pediu pra que ele descontasse dois, deixando o outro “compartilhado”. Ele não entendeu e perguntou pra ela do que se tratava.

Depois de ouvir as explicações da moça ele gostou da ideia e pesquisou na internet sobre essa atitude. Descobriu que o café compartilhado ou suspenso já é praticado em países da Europa, mas aqui no Brasil ainda é uma novidade.

Neves decidiu aderir ao gesto e desde então colocou uma lousa para registrar os créditos dos cafés, bolos e lanches compartilhados e oferece estes créditos às pessoas em situação de rua, mas disse que na maioria das vezes acaba dando mais do que está registrado na lousa.

O Sr. Neves fica na Rua da Consolação (em frente ao número 318), de segunda à sexta em dois horários: das 5h30 às 11h e das 17h30 às 22h!

Aqui tem o link do Google Maps da localização exata: https://www.google.com.br/maps/@-23.547567,-46.644239,3a,75y,37.95h,78.93t/data=!3m4!1e1!3m2!1snyO3P8zlpwXtCK7jTVpuPA!2e0

Sr. Neves e sua banquinha no começo da Rua da Consolação.

Sr. Neves e sua banquinha no começo da Rua da Consolação.

Olá, migas!

Criei esse blog porque estava com insônia e comecei a escrever textos, divagar sobre as coisas, processo que ocorre com uma certa frequência, mas que nunca dei a devida atenção e acabei deixando estes textos de lado…

Decidi que mesmo que eles sejam “mais de tudo aquilo que já foi dito e ouvido” ainda assim tem um pouco de novo, porque é a versão dos fatos reais ou não de mais uma mente (in)sana deste mundo!